O convívio criativo é um dos prazeres que a arte proporciona: quando dois ou mais artistas se encontram para trocar experiências, idéias, e deixam fluir a criatividade sem nenhum compromisso ou propósito específico, acontecem momentos lúdicos, mágicos e libertadores.
Tenho a alegria de usufruir desses momentos quando visito o atelier do amigo Wladimyr Jung: seu local de trabalho está sempre aberto aos sábados, quando se pode apreciar seu processo criativo, e conviver com a arte em seu ambiente mais autêntico (isso significa, também, e principalmente, muito cheiro de tinta, e o risco certo de sair com a roupa manchada de óleo, acrílica, ou algum outro “novo elemento” que nasce de suas experiências de um verdadeiro alquimista das cores).
Vai daí então que das conversas sobre os manifestos de 2013, dos comentários sobre as pilhas de panos usados nas pinturas, e a inusitada presença de outros objetos no atelier (sim, artista de verdade vê em tudo “alguma coisa que um dia pode virar arte”, e tem a mania de recolher e guardar para usar “quando for a hora certa”), surge a idéia: “vamos fazer uns Black Blocs?”
Juntam-se cabeças de isopor, panos manchados de tinta, objetos aleatórios e – pronto! – lá estão os “manifestantes-revolucionários arquetípicos”: um sonho de que um dia a arte, e não a violência, traga o discurso certo, as mudanças necessárias, e a paz verdadeira.
E, como era dia da criança (12 de outubro), ficou a idéia de que os “manifestantes do futuro” – os “Baby Blocs”, mereciam uma foto no colo do “titio-fugindo-do-gás-lacrimogêneo”, no melhor estilo “salvem nossas crianças”!
Brincadeira de adulto, alegria de crianças, recado de artista, diversão de loucos – mas com um significado profundo: há boa arte nos diálogos sem palavras (e, por isso, sinceros).
P.S. No dia 12 de outubro eu comemorei também meu aniversário – e são presentes assim que me comovem. Obrigado, Jung!